Palavras sem muito significado pra quem tem uma rocha no peito
31.12.11
É sempre uma nova esperança
21.11.11
seis dedos e mil gargantas
19.11.11
sorriso
9.10.11
saudade
6.10.11
as cartas da última gaveta da cozinha
22.9.11
Ontem éramos crianças, hoje somos máquinas
17.9.11
simples assim
13.9.11
porcas manhas
11.8.11
bastante
1.8.11
num instante
28.7.11
Curtos
27.7.11
lá
26.7.11
Amar é morrer um pouco - e, também querer matar
Sabrina (Capítulo 1)
20.7.11
drops sem peso

trovoada melancólica
.
Apanhador Só - Nescafé
.
15.7.11
vento
norte, norte
forte
que algo me importe
cicatrize o corte
venta, vento
venta
lento
lamento
2.7.11
"do que é amor ficou o seu retrato"
29.6.11
dos teus beijos sem amor
24.6.11
do que nem sei o quanto gosto
19.6.11
das laranjas que rebolam ao vento
18.6.11
Marcha da Liberdade em Porto Alegre
Cerca de quinhentas pessoas se reuniram neste sábado para defender o direito a ser. Ser mulher, ser homem, ser homossexual, ser usuário de maconha, ser estudante, ser cidadão. O direito a ser respeitado, aceito, ouvido. O direito a ter direitos. O tempo cinza limitou-se ao céu de Porto Alegre. O chão, onde estavam os pés dos manifestantes, esteve colorido com os infinitos tons da liberdade. Até a chuva esperou a dispersão dos indignados para jogar alguns pingos, e mesmo assim logo se arrependeu.
Andando, sentando, pulando e correndo, quinhentos jovens de todas as idades marcharam do parque da Redenção até a antiga prefeitura de Porto Alegre, gritando por liberdade, por redenção. Enquanto a Globo dizia que “a polícia não conseguiu garantir o direito de ir e vir dos motoristas", os jovens porto-alegrenses criavam ecos e faziam eco a movimentos semelhantes que aconteciam ao mesmo tempo por todo o Brasil, e gritavam que “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”, e que “o povo não esquece, abaixo a RBS!”.
O povo gritou, nas gargantas ou nos cartazes – assim como os muros, mídias do povo – que está “lutando por liberdade pra construir uma nova sociedade”, que faz “apologia ao debate”, e que “ideias são à prova de balas”. E perguntou: “Se reprimir é o certo, por que tá tudo errado?".
Partidos e não-partidos, entidades e não-entidades, pessoas. Muitas das principais pautas de todas as juventudes brasileiras estiveram representadas na Marcha da Liberdade em Porto Alegre. Não houve qualquer conflito com polícia ou população. Pelo caminho, muitos transeuntes sacavam celulares e máquinas fotográficas e registravam a versão brasileira dos movimentos de indignados que começam a acontecer pelo mundo. Muitos outros aderiam à caminhada sem convite direto: o melhor convite foi a própria pauta de reivindicações. Buzinas pelo caminho de ruas parcialmente tomadas por gente? Apenas saudações simpáticas à batucada e aos passos que seguiram rumo à democracia real. Já.
Alexandre Haubrich – www.jornalismob.wordpress.com
A marcha propositalmente sem fim

Tudo bem, passou. É outro dia. Dia da Marcha da Liberdade.
Eu, como jornalista, ou quase isso, não podia deixar de estar presente.
Algo de tanta repercussão no país por conta de muita confusão em São Paulo advinda da marcha da maconha. Esta que, agora, está liberada oficialmente. É legítima por lei.
Mas não é disso que eu queria falar.

Maconheiros, viados, lécas, artistas, chimarristas, sambistas, jornalistas, vereadores, trabalhadores e todos os estereótipos possíveis estavam lá por uma causa. Uma causa calada e velada há tempos. A causa de se fazer presente, de mostrar a cara, de gritar e fazer barulho para que suas causas de vida fossem ouvidas.
A questão não é a maconha, não é a sexualidade.
Essas coisas estão cravadas na sociedade, ninguém tira. O que se queria ali era chamar a atenção para que o mundo, ou quem legisla, pense em um coletivo e não na sua ideologia caquética e enferrujada.

A marcha foi pela liberdade de expressão, pela liberdade de SER.
E ser é importante.
Ser é o que nos mantém vivos e pensantes.
Faz com que a gente acorde e vá ao banheiro, olhe no espelho e diga bom dia.
Vida é marcha sem fim - ou com um fim que é a morte.
Enquanto não morrermos, estamos lutando.
Por amor, por carinho, por reconhecimento do que somos.
E o que somos é nosso e ninguém pode proibir.
*fotos da queridona Carolina Cornelius Reichert
11.6.11
dos olhos verdes e saia curta

Ela caminhava sempre naquela marcha sensual e firme.
Seu rosto levemente arredondado, boca larga e lábios grossos e vermelhos. Olhos verdes. Cabelo escuro. Estatura baixa, seios fartos.
Certa vez a vi sentada no bar da esquina, era umas quatro da tarde. Uma pequena porção de luz do sol ainda lambia a perna da mesa, pincelando de amarelo a coxa delgada, fazendo brilhar os pelinhos tão finos quanto o possível de enxergar. Já tinha visto ela com aquela saínha jeans. O verão é a estação perfeita pra ela. O inverno não tem o direito de privar o mundo daquelas pernas, barriga e seios esculpidos por algum artista que a fez como obra fundamental. Estado da arte.
Na ocasião, eu vinha correndo de uma entrevista e precisava entregar o texto pro revisor em quarenta e cinco minutos.
Era uma matéria sobre a patética reforma que tavam fazendo do praça principal. Então vou eu passando pelo bar da esquina e vejo aquela cena surreal. E mais surreal foi ela ter sorrido pra mim. Vocês não vão acreditar. ELA ACENOU E ME CHAMOU. Como assim?
Fiquei um pouco sem jeito e perguntei se era comigo mesmo. Ela confirmou com a cabeça enquanto caía um pouco da franja sobre os olhos e o nariz. Os três segundos que fiquei paralisado ao ver a cena pareceram três horas. (imaginem essa cena com uma iluminação fria e azulada).
O copo de cerveja que ela segurava na mão esquerda refletiu um raio de sol que fez o favor de me tirar do transe. Obviamente fui até a mesa dela - agora já nem importava mais a figura do revisor na história - e perguntei em que eu podia ajudar. Ela disse pra eu sentar na mesa que precisava de companhia, estava muito triste - adeus revisor.
Disse que o namorado tinha terminado com ela - que imbecíl.
Me convidou para ir a uma festa e tomar todas as champanhas possíveis. Aceitei.
Fomos para a casa de uma amiga saída da mesma forma que ela. Porém, ruiva.
Passamos algumas horas falando sobre como a vida é injusta com as pessoas - naquela situação não havia injustiça nenhuma em minha vida.
Por volta das duas da madrugada ela foi ao banheiro e demorou um pouco a voltar. Sua amiga foi ver o que tinha acontecido e também sumiu. Poxa. Fiquei preocupado. Ouvi um grito seguido por risadas das duas. Obviamente, fui verificar. Sim. Elas estavam seminuas sobre a cama com lençol de seda preto. Sabe aquela cena de filme? Pois é.
As duas perceberam que eu estava escorado na porta paralisado. Sentaram-se encostadas na parede e, simultaneamente esticaram os braços e com o indicador me convidaram para o que seria a maior festa sexual que a minha vida poderia suportar. Duas ninfas, provavelmente saídas da mente de Nabokov, e eu. Como num flash, eu estava sobre a cama só de meias. (?)
A amiga ruiva, me puxou pelo cabelo e beijou meu pescoço enquanto a semideusa morena jogava champanha sobre o peito. Flutuamos em um ato surreal. Mas, né. Fechei os olhos enquanto beijava os lábios macios das duas ao mesmo tempo.
Ao abrir os olhos me deparei com uma senhora sem dentes e quase careca sorrindo pra mim e dizendo: vem cá, garotão!
*sonhei isso noite passada.
8.6.11
Querido Inverno

Querido Seu Inverno
Escrevo essa carta pois creio que houve um equívoco em sua ação nos últimos dias. Acho que o senhor está errado. Ou, ao menos, está olhando o calendário de outro ano. Sei lá o que o senhor fez! Anda bebendo demais?
Faltam ainda uns 15 dias para que o senhor possa aparecer. E aviso que já há uns 20 que botou o narigão aqui no mundo. Veja bem: isso não é muito legal, visto que tem coisas que precisam ser respeitadas. Como os semáforos pelos motoristas.
Seu dia de nascimento é por volta de 21 de JUNHO. Estamos apenas no dia 8 e tá frio pra dedéu.
As pessoas precisam se preparar.
Eu, por exemplo, já não tenho mais ceroulas e mijões e camisetas de manga comprida para usar. Não é assim tão fácil as mamães lavarem as roupas no frio e na chuva. Não seca.
Agora eu tenho dormido com três - três - cobertores. É pesado.
Minha aula é de manhã. O senhor faz ideia de como é levantar da cama com 2 graus de temperatura e sensação de -9?
E depois de levantar ter que ir parar embaixo do chuveiro?
Não! Isso não está certo, seu inverno.
Tenha um pouco mais de calma e depois que vier nos congelar, tenha mais pressa em sair.
Meu pai fica triste. Porque no inverno é ruim de beber cerveja.
Ele diz que tem que tomar vinho daí. E vinho da azia, segundo ele.
Aqueles momentos de solzinho e bergamota não são suficientes pra abafar a brabeza que me dá quando eu acordo e não quero colocar o nariz pra fora das cobertas.
Mas minha mãe diz que eu tenho que ir pro colégio.
Se eu não fosse pro colégio eu não saberia escrever essa carta. Minha mãe tá é bem certa.
Volto a lembrar que o senhor é quem está errado, seu Inverno.
Peço que repense sua atitude e só reapareça daqui um tempo mais.
Um abraço cordial desse amigo que gosta do senhor só por alguns momentos particulares.
Atenciosamente, Rodrigo Ricordi, 9 anos, vivente em Santa Maria.
*carta supostamente fictícia. imagem real, mas sem fonte. :)
6.6.11
22.5.11
teatralizo
quando joga o cabelo molhado
do suor dos aplausos que te dedico
nos sonhos daquelas noites
em que és tão presente quanto teu cheiro
ao lado do travesseiro
quanto aquela mão apertada que sorri
dizendo calma
teatralizo quando te sigo até o profundo da noite
e te afago o dorso
quando o vapor de mate com mel aquecem tuas tensões
quando te afogam e quando te casas
quando te iluminam e quando te apagam
quando és mais que uma
ou quando és a luz e a estrela e o chão
quando tua feição me dá impulso
quando teu riso obriga o meu a nascer
quando o meu ranço vira piada e some
teatralizo ao dizer teu nome
20.5.11
both
9.5.11
O Serial Killer que não desistiu a tempo
Eu vinha observando ela por um bom tempo. Ia anotando seus passos e sua rotina.
Eu sempre alternava meu disfarce para não chamar a atenção da moça. Jamais conseguiria ser um assassino se fosse bonito. Mulheres morenas e altas – minhas preferidas – jamais olhariam para um cara barbudo e de óculos em um bar, por exemplo.
Eu sabia todos os lugares que frequentava, que horas acordava, que horas almoçava, que horas ia aos pés. Sabia bem os banheiros que ela preferia para fumar escondida nos restaurantes. Um dia acordei e pensei: chega não agüento mais de saudade daquele sanguinho quentinho saindo de uma bela morena. Dei aquela chicotadinha nas minhas costas e bolei o plano. Depois disso a minha vida começou a virar um inferno.
Na noite em que resolvi matar Lorena eu já saquei que algo estava estranho. Ela entrou no bar pra comprar cigarro, me olhou e sorriu. Ela NUNCA tinha feito isso. Pensei que meu disfarce estava funcionando. Mas tudo bem, fingi que não vi e não retribuí. A ideia era a seguinte: eu ia seguir ela até a rua XVII. Quando ela dobrasse a direita eu seguiria reto e pegaria a moto para fazer a volta na quadra mais rápido que ela. Na passagem do beco, eu ia ensacar a cabeça dela e jogar dentro da van.
Incrivelmente, ela saiu do bar e tinha muita gente na calçada. E percebi um homem do outro lado da rua – que depois fui apresentado como Bruno – falando num celular e olhando pra ela. Logo vi que ela atendeu e olhou pra ele. Cruzou a rua e os dois foram juntos até o teatro. (Sabia que deveria ter grampeado o telefone dela.. acho que ela está começando a namorar).
Bom, tudo bem. Tentarei amanhã ou depois. Mas vou mudar a estratégia.
Quinta à noite ela sempre ia ao mercado. Mudei o disfarce. Coloquei um terno e a segui até a loja. Comprei um Ruffles e um capuccino e fiquei comendo no carro até ela chegar ao caixa. Ia oferecer ajuda para colocar a compras no porta-malas e tentar marcar um encontro. Eu tava muito bonito pra ela recusar um café. Me distraí e quando percebi, ela já estava chegando perto do carro. Levantei correndo e não me dei conta que tinha colocado o cinto de segurança. Resultado: mancha na camisa. Assim não dá! E ainda por cima vi que o namoradinho dela estava no carro. Ele me viu limpando a camisa com o lenço de papel. Eu batia a cabeça no volante de raiva e ainda por cima bati a cabeça na buzina quando o carro dela passava ao lado do meu! Ela também me viu. Menos um disfarce, mais um plano para elaborar.
Bom, tudo bem. Tentarei amanhã ou depois. Mas como?
Na sexta ela sempre vai naquela boate chinfrim na rua 51. Boa noite Cinderela na moça!
Ela sempre toma aquele drink verde de menta, vodka e tônica. Barbada. Vou distrair ela e colocar o pó na taça. Perfeito. Depois eu sento com ela e a levo pro meu lugar preferido: o sótão da minha casa. Onde eu corto aquelas pernas e braços lindos e morenos e monto as perucas dos meus disfarces. Mas o universo realmente estava conspirando contra mim. Era muito azar.
Ela chegou, pediu o drink e assim que chegou eu sentei ao seu lado. Pedi o mesmo que ela e coloquei a droga. Puxei papo e troquei as taças sem ela perceber. Ela sorriu e conversou comigo um pouco. Quando ela estava levando a taça a boca um bêbado começou a bater com a cadeira no garçom que esbarrou nela e a bebida foi toda, todinha pro chão. E eu não tinha droga reserva. Imagina a minha raiva. Eu juro que chorei de raiva. Eu não agüentava mais. A minha crise de abstinência estava me matando. Eu sonhava com um mundo vermelho, com pernas e braços andando pelas ruas e gritando meu nome. Era pesadelo atrás de pesadelo.
Bom, tudo bem. Tentarei amanhã. Mas agora ela pode me reconhecer. O que fazer, por final?!
Já sei! Agora vai!
Restaurante e banheiro. Cigarro e morte. Eu sou um gênio! Como não pensei nosso antes!
Sábado é o dia que ela janta com as amigas. Sem falta. Vou pegar ela no banheiro e tirar pela janela dos fundos. É barbada e no sábado a noite não tem carga e descarga atrás do lugar. Não pode fumar e eu SEI que ela toma uns goles e fica a fim de fumar, vai ao banheiro e fuma. Eu sei. E já segui ela até a porta do banheiro.
Cheguei antes, pedi um yakisoba e uma jarra de vinho barato. Ela chegou junto com duas meninas loiras e sentaram na mesa de sempre. Cerveja vai, cerveja vem. Porções de camarão e batata frita. Aqueles gritos e risadas que só as meninas sabem fazer ecoar dentro de um lugar fechado. E nada de ela ir ao banheiro. Já estava ficando tonto com aquele vinho maldito. Minha impaciência já estava me esmurrando a cara.
Mas finalmente ele levantou e desfilou em direção a morte.
Contei até 10. Eu tremia de excitação e alegria. O choro que era de raiva quase saiu em forma de alegria. Era hoje o dia! Levantei e fui em direção a ela. Rolou aquele encontro no corredor de entrada dos banheiros em que os dois desviam pro mesmo lado, sabe?
Eu senti o perfume doce que vinha dos cabelos negros e longos.
Esperei ela entrar no banheiro. Contei um minuto e meio e entrei atrás dela. Não senti cheiro de cigarro. E ouvia só um barulho de água escorrendo. Começou o meu desespero e minha mão esquerda começou a tremer. Quando dobrei para a parte em que ficam as pias e vi aquela morena estirada no chão, segurando um cigarro, imóvel e com a cabeça toda ensangüentada. Ali eu ajoelhei, chorei e gritei de raiva até que uma garçonete entrou para ver a cena. Eu gritando desesperadamente e batendo com a cabeça na parede: a pia! Perdi para uma pia! Uma pia!
3.5.11
Entrevista: Ignorância
Comprei um Sprite - prefiro Sprite a Coca - e pedi licença para sentar. Me apresentei como Rodrigo e disse e perguntei se podia trocar umas palavrinhas - típica técnica de aproach de jornalistinhas como eu.
O que me surpreendeu de início foi que ela disse: "Senta aí, @karekaricordi. Já te conheço. Te sigo no Twitter. Bom te conhecer pessoalmente!" Que pessoa amável! Sabe aquelas criaturas queridas que dá vontade de apertar? Ela é assim. Inofensiva, quase não existe.
Então propus de escrevr o perfil e ela adorou. "Pode me chamar de Igui", disse gentilmente. E comecei as perguntas que transcrevo na íntegra aqui. Para que todos tenham bastante o que ler. Senão...
Eu - Ignorância, já ouvi falar de você incontáveis vezes. Como tu lida com essa fama e essas pessoas que te citam diariamente no mundo todo?
Igui - Olha, Kareka, meu bip toca muito durante o dia. Ele tem duas luzes. Uma verde e uma vermelha. Parece um semáforo. Não para de trocar. A luz vermelha significa que estão falando mal de mim ou estão me citando de maneira errada. Ou seja, se fosse uma sinaleira, os carros ficariam parados por muito tempo.
Eu - Por isso tu veio na Feira do Livro?
Igui - Não só por isso. Vim para tentar falar algumas coisas. Mas não me deixaram. Eu queria falar sobre a campanha de divulgação. As pessoas não quiseram abrir esse debate. Acho que ele é interessante. Tem um palco ali, cadeiras. As pessoas poderiam se interessar por conversar sobre mim e cultura. Sobre mim e preconceito, e sobre o que eu ralmente sou e no que interfiro no mundo.
Eu - Qual é teu contraponto em relação à campanha?
Igui - Eu achei que a intenção da campanha foi genial. Porém, ela passou quilômetros do ponto. Principalmente por me citar. Eu não fiz nada pra eles! Estava quieta na minha. Eles insinuaram que eu sigo e persigo pessoas que não lêem livros. Isso é mentira! Eu não sigo pessoas completamente. Sigo pessoas em partes. E mesmo as que lêem livros e as que dizem que pessoas que não lêem livros SÃO ignorantes. Esses, quando eles ignoram o real sentido do que eu significo. Mas só nessa parte né. Por que eles não são ignorantes na maior parte do tempo. E nem quando passam o dia no tuíter. Imagine só um colega teu que trabalha com atualização de mídias sociais. Ele passa o dia no FaceBook, no Twitter e no site em que trabalha. E o incrível é que ele sabe muita coisa. Pelo menos, como mexer nessa tralha toda, coisa que eu não sei nenhum pouco, sou ignorante. Só mexo no Twitter. Nisso, eu sou contra no teor da campanha.
Eu - Comprou algum livro?
Igui - Não! Não sei ler livros. E não quero aprender. Vai que eu mudo minha personalidade. Deuzulivre! Preciso manter a forma. To aqui comendo esse crépe com Coca e depois vou ali fora fumar um cigarro. Queria tomar uma cervejinha, na verdade. Mas não tem aqui pra vender e nem posso comprar ali no bar da esquina e trazer. Enfim, né. Coisas da vida que nos são impostas.
Depois desse papo, eu agradeci e fomos fumar um cigarro e tomar uma cerva do lado de fora do lonão, lá onde ficam os cachorros.
29.4.11
A República da Farinha – o momento dos grandes partidos políticos brasileiros
Peguemos os mais encorpados partidos do país e vejamos se a farinha não é o elemento comum entre eles, se não é ela quem norteia os rumos da política nacional. A farinha, unida a doses variáveis de fermento, é a receita geral, ainda que um ou outro mestre-cuca da alta elite culinária prefira a farinha que passarinho não come.
O PSDB segue a receita da vovó estrangeira, que vem e volta ao Brasil de acordo com suas conveniências, mas não gosta muito daqui. De qualquer forma, ela está sempre em contato, enviando sua mais nova receita aos filhinhos tucanos, nova receita que é sempre a mesma. Está caduca ou apenas quer fixar bem seus ingredientes na nossa cabeça? Bondosa. Fato é que o contato é sempre através de cartas, para que venha junto seu cheiro de enxofre, tão agradável ao olfato das aves de bico longo que habitam essas paragens.
A receita do PSDB baseia-se, teoricamente, em fazer o bolo crescer para depois dividir. Mas, cozinheiros amadores que somos, sabemos que em qualquer casa que se preze quem está na cozinha acaba por decidir o quanto quer comer. Se muitos estão ajudando a fazer o bolo, muitos comem, irremediavelmente. Se poucos se fecham a sete chaves na cozinha, fazem um bolo enorme e comem tudo sozinhos.
Mas não veja no PSDB ou em sua avó estrangeira muita criatividade. Com problemas para manter o peso, os tucanos pouco mais fizeram do que deixar mais light a receita usada pelo seu primo DEM, receita essa criada pela querida vovó deste último, a Dona Arena. Essa rigorosa senhora passou a tal receita para o seu filho, o PFL, que repassou para o DEM. Os passos são mais ou menos semelhantes aos da receita do PSDB, mas, para fazer o bolo como prefere o DEM, bata bastante. O bolo da Dona Arena também tem um gosto um tanto adstringente: enrola a língua do vivente, dificulta a fala. E é preciso comê-lo com cuidado, sem estardalhaço e com um ritual determinado anteriormente pelo cozinheiro. Caso contrário o cidadão ficará chocado com o que pode acontecer.
O PT, por sua vez, nunca teve muitas condições financeiras para comer bolo. Comia terra, mas comiam todos. Desde 2001, essa realidade mudou. O PT ascendeu à classe média, e ganhou até o direito a fazer seu próprio bolo. Fez, faz, e tem distribuído os pedaços para mais gente. Mas não deixa mais ninguém entrar na cozinha, e a receita, que pegou emprestada do PSDB, ganhou apenas um pouco mais de açúcar.
E o PMDB? Bom, esse não sabe cozinhar, mas come o que vier. E pede para repetir.
Alexandre Haubrich, jornalista e editor do blog Jornalismo B
5.4.11
pour toi, mon cœur
Eu jamais dei bola pras coisas perdidas.
Pros anos que passaram e a gente nem sentiu.
Pros dias em que acordamos
e lá estávamos de braços dados contra o vento que tentou nos derrubar e não conseguiu.
Nem vai.
Te escrevi poemas picantes, blazês e piegas.
Te vivi como irmã e amante; como amiga e mãe; como alegria e saudade.
Saudade essa que sinto todo dia que não tenho a honra de te ter junto a mim.
Poderiam ser duzentos senão nove, seria a mesma coisa.
Feliz sou de estar do teu lado no dia em que o sol te nasce... fechando mais um ciclo.
Te amo do mesmo jeito que a flor ama a abelha, porque ela sabe que, a partir dela, sobrevive em outro galho.
Feliz Aniversário.
3.4.11
aquelas tardes de samba e sol bem longe
30.3.11
300 horas
daquelas tantas maneiras de chamar a cada anoitecer
quando a madrugada virou mesa de bar
das fantasias que discutimos para driblar a distância que teima em ser presente
das Gabrielas no jornal
das vezes que quisemos avançar a ciência e diminuir o tempo e o espaço
dos chás de limão e pêssego que nem combinam mas nos deixam acordados
(não que haja necessidade)
das duzentas e oitenta e oito horas quais estarás além
e das doze que te dou pra me abraçar
29.3.11
do ato do merecimento mútuo
o canto daqueles jargões de mães tolas e falsas referências
ofereço-te agora a parte que não sustenta nem aquele fio de candura que dissimulaste
aqui existe um gorfo de lenda, paixão
nauseia-me tua presença
no mundo
.
21.3.11
das noites
20.3.11
dos dias
em direção ao que nem via
criava atucanado a solidez da solidão
julgando próprio o que nem mesmo tinha corpo
imprório e tangente
quase fuga
dos dias que passaram
como se fossem apenas segundos
dos dias que agora passam
como eras
daquelas lembranças
resgatadas por sons
e vozes que cantam palavras
que acabam por machucar
17.3.11
por nada
16.3.11
o homem que me copiava
(Fragmento de Os dragões não conhecem o paraíso)
Eu respondi que não conhecia a obra e que não tinha tido paciência nem de ler Morangos Mofados.
Aí ela me mostrou esse texto que tava no blog do Grings.
Esse tipo de coisa acontece.
E esse texto veio bem a calhar no dia de hoje.
desespero-te
dos recados que apaguei do orkut
daquelas rimas do MSN
luzzzzzz acesaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
me espera no portão pra você veeeeeeeeeeeeeer
(cantor medíocre de msn)
Verônica M. Barbosa diz (00:22)
q eu to voltando p casaaaaaaa
Kareka Ricordi diz (00:23)
tô me massacrando aqui com o acústico do Lulu Santos
Verônica M. Barbosa diz (00:23)
pra q isso meu fio
Kareka Ricordi diz (00:23)
pq eu to triste
pq eu tô bêbado
pq eu quero sair correndo pela rua
pq eu queria morrer
pq eu queria mil coisas e não posso ter
Verônica M. Barbosa diz (00:24)
foi so p rimar
Kareka Ricordi diz (00:24)
foi quase um poema
vou postar
vou colar
nossa conversa no blog
Verônica M. Barbosa diz (00:24)
vou gritar
Kareka Ricordi diz (00:24)
vou pular (da janela)
Verônica M. Barbosa diz (00:25)
p t encontrar
Kareka Ricordi diz (00:25)
e te abraçar
Verônica M. Barbosa diz (00:25)
e suspirar
Kareka Ricordi diz (00:26)
agora sim eu vou postar
12.3.11
das noites em que o rock gritou
8.3.11
do confete confesso
5.3.11
da noite em que me apaixonei por uma barata
1.3.11
das cartas que escrevi e não enviei
17.2.11
Sangue na boca
Eu tinha 12 anos quando matei a primeira pessoa.
Na época eu tinha medo das pessoas. Eu via sangue por todo lado.
No fundo, no fundo, quando eu deitava, ficava imaginando aquele sangue todo jorrando da cabeça do vizinho que ficava na espreita quando eu voltava da escola. Ele cuidava na janela e roubava todas as moedas que eu conseguia pedindo no caminho de casa.
Onde eu morava nunca teve lei. Aliás, teve. Tinha a lei do revólver.
Quem tinha, conseguia o que queria. Meu pai e minha mãe era da Igreja. Eu até ia. Mas sempre vi os sermões do padre como uma arma tão perigosa e poderosa quanto o trabucão do Zé (meu vizinho).
Um dia ele veio pegar minhas moedas. Eu nem tinha, na verdade. O que eu tinha na mochila era o cano do Adenor. Ele tava fugindo da polícia e cruzou por mim na entrada do beco. Disse: - baixinho, pega e esconde pra mim. Fiquei meio assim de pegar. Mas eu sabia que se não pegasse ele ia me bater depois, no mínimo. E foi muito bom ter pego. Quando o bundão do Zé não acreditou que eu não tinha moedas fez eu abrir a mochila. Passei a mão na benga, olhei pra ele e puxei o gatilho. O sangue jorrou da cabeça dele bem como eu tinha sonhado umas duzentas vezes.
Caiu um pouco de sangue na minha boca. Tava muito perto. Senti aquele gosto de caqui verde, ferrugem, seco. Lembrei dele por dias. Foi como se eu tivesse me afeiçoado pelo gosto e pela cor.
Meio que resolveu os meus problemas temporariamente.
Logo logo surgiram mais pessoas matáveis. O Adenor nunca mais procurou a arma (parece que mataram ele aquele dia) e ela ficou pra mim. Com aquelas quatro balas. Tinha só quatro furos pra fazer.
Num dia de inverno que fazia trinta e seis graus, eu matei um cachorro que parecia uma múmia. Todo escalavrado. Manco. Doente. Ele merecia morrer.
Depois eu matei o papagaio do vizinho. Ele era muito chato e não me deixava dormir no domingo de manhã. Fazia mais barulho que o pagode que começava às nove horas na laje em cima do meu quarto no barraco. Mirei da janela da sala. Acertei a cabeça. Jorrou sangue. Não como o cachorro. Mas jorrou sangue muito por que a cabeça sumiu. Só ficou aquele corpo verde no chão da gaiola que acabou ficando vermelho escuro.
Não matei nada durante seis anos. Deixei o cano escondido lá em baixo do guarda-roupa. Eu tinha resolvido meus problemas. Eu nem pensava que ia surgir um grande problema. Mas eu já tinha 18 anos. Meu pai acumulava dez de pinga. Minha mãe era tão crente que, às vezes, parecia que baixava um espírito mau nela. Dizem que ela tava cheirando cocaína.
Um domingo, desses de pagode na laje, eu acordei com uma gritaria estranha. Não era samba enredo. Ouvi uns gritos da minha mãe. Meu pai tava de pé na sala e minha mãe no chão gritando coisas que eu não conseguia entender. Eles tinham feita dessas muitas vezes nos últimos dias. Quase sempre meu pai descontava em mim. Por que minha mãe tava louca. Não adiantava bater, esmurrar e chutar. Ela nunca parava de gritar.
Eu olhei da porta do meu quarto. Lembrei da arma.
As duas últimas pessoas que matei foram meu pai e minha mãe.