29.6.11

dos teus beijos sem amor

de quando tu não desabrochas, eu nem saio da fruta.
apodreço dentro da casca e morro.
das volúpias da carne que te vê e não te consome. do afago.
do que insiste em te consumir. do que nem me dá.
do que eu escondo. do que escancaras.
quando inverto, dás nó.
quando invento, taciturnas.
folgo e gozo quando tua boca alcança a orelha.
mesmo quando efêmero é.

te aprendo.
te sinto.
e vou.


24.6.11

do que nem sei o quanto gosto

da noite que o gelo entrava pelos furinhos da janela
quando tua orelha era quase vermelha
que de tanto vinho que misturou com cerveja ficou surda
que a lembrança daquela lástima ficou turva
que o turvo ficou perene
que o que mal segurava o suspiro
virou abraço
que o virtual virou travesseiro
o que era cisma virou saudade
e a saudade, essa, é só encarte

(pra ela que foi ali e já volta)


19.6.11

das laranjas que rebolam ao vento



O vento norte, quente, barulhento, quente e barulhento
Faz com que a imaginação carregue umas coisas para os dedos. Sentado aqui, assistindo ao bom dvd da Maria Gadú vejo as árvores ali fora deitando empurradas pelo vento que já se tornou intransigente.
Mas o legal é o rebolado da laranja no pé. Me chamou a atenção a dança. Quase um cara-caramba-caracaraÔ.

18.6.11

Marcha da Liberdade em Porto Alegre

Cerca de quinhentas pessoas se reuniram neste sábado para defender o direito a ser. Ser mulher, ser homem, ser homossexual, ser usuário de maconha, ser estudante, ser cidadão. O direito a ser respeitado, aceito, ouvido. O direito a ter direitos. O tempo cinza limitou-se ao céu de Porto Alegre. O chão, onde estavam os pés dos manifestantes, esteve colorido com os infinitos tons da liberdade. Até a chuva esperou a dispersão dos indignados para jogar alguns pingos, e mesmo assim logo se arrependeu.

Andando, sentando, pulando e correndo, quinhentos jovens de todas as idades marcharam do parque da Redenção até a antiga prefeitura de Porto Alegre, gritando por liberdade, por redenção. Enquanto a Globo dizia que “a polícia não conseguiu garantir o direito de ir e vir dos motoristas", os jovens porto-alegrenses criavam ecos e faziam eco a movimentos semelhantes que aconteciam ao mesmo tempo por todo o Brasil, e gritavam que “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”, e que “o povo não esquece, abaixo a RBS!”.

O povo gritou, nas gargantas ou nos cartazes – assim como os muros, mídias do povo – que está “lutando por liberdade pra construir uma nova sociedade”, que faz “apologia ao debate”, e que “ideias são à prova de balas”. E perguntou: “Se reprimir é o certo, por que tá tudo errado?".

Partidos e não-partidos, entidades e não-entidades, pessoas. Muitas das principais pautas de todas as juventudes brasileiras estiveram representadas na Marcha da Liberdade em Porto Alegre. Não houve qualquer conflito com polícia ou população. Pelo caminho, muitos transeuntes sacavam celulares e máquinas fotográficas e registravam a versão brasileira dos movimentos de indignados que começam a acontecer pelo mundo. Muitos outros aderiam à caminhada sem convite direto: o melhor convite foi a própria pauta de reivindicações. Buzinas pelo caminho de ruas parcialmente tomadas por gente? Apenas saudações simpáticas à batucada e aos passos que seguiram rumo à democracia real. Já.

Alexandre Haubrich – www.jornalismob.wordpress.com

A marcha propositalmente sem fim


Sábado de sol. Um dia depois de outro em que um dilúvio caiu em Santa Maria e na minha cabeça. Uma sexta-feira quase treze - com direito a Jason e tudo. Acordei zoado de uma noite cheia de cerveja e um rock quase bom. Aquela comida requentada da madrugada ainda se remexia dentro do meu estômago.

Tudo bem, passou. É outro dia. Dia da Marcha da Liberdade.
Eu, como jornalista, ou quase isso, não podia deixar de estar presente.
Algo de tanta repercussão no país por conta de muita confusão em São Paulo advinda da marcha da maconha. Esta que, agora, está liberada oficialmente. É legítima por lei.

Mas não é disso que eu queria falar.

Fui. Assim como tantos outros que estavam lá, com a curiosidade e quase uma desesperança de que seria um movimento uníssono de uma causa. Talvez essa curiosidade e, até, pouca infirmação, fez um grupo, de quase duzentas pessoas, se reunir na concha acústica do parque Itaimbé.

Maconheiros, viados, lécas, artistas, chimarristas, sambistas, jornalistas, vereadores, trabalhadores e todos os estereótipos possíveis estavam lá por uma causa. Uma causa calada e velada há tempos. A causa de se fazer presente, de mostrar a cara, de gritar e fazer barulho para que suas causas de vida fossem ouvidas.
A questão não é a maconha, não é a sexualidade.
Essas coisas estão cravadas na sociedade, ninguém tira. O que se queria ali era chamar a atenção para que o mundo, ou quem legisla, pense em um coletivo e não na sua ideologia caquética e enferrujada.

Estar na Marcha da Liberdade fez pensar, apesar umas cervejas, que a vida não precisa ser assim tão sem brilho, sem barulho, sem shake-your-body.

A marcha foi pela liberdade de expressão, pela liberdade de SER.
E ser é importante.
Ser é o que nos mantém vivos e pensantes.
Faz com que a gente acorde e vá ao banheiro, olhe no espelho e diga bom dia.

Vida é marcha sem fim - ou com um fim que é a morte.
Enquanto não morrermos, estamos lutando.
Por amor, por carinho, por reconhecimento do que somos.

E o que somos é nosso e ninguém pode proibir.

*fotos da queridona Carolina Cornelius Reichert

11.6.11

dos olhos verdes e saia curta


Né... fala sério!
Ela caminhava sempre naquela marcha sensual e firme.
Seu rosto levemente arredondado, boca larga e lábios grossos e vermelhos. Olhos verdes. Cabelo escuro. Estatura baixa, seios fartos.
Certa vez a vi sentada no bar da esquina, era umas quatro da tarde. Uma pequena porção de luz do sol ainda lambia a perna da mesa, pincelando de amarelo a coxa delgada, fazendo brilhar os pelinhos tão finos quanto o possível de enxergar. Já tinha visto ela com aquela saínha jeans. O verão é a estação perfeita pra ela. O inverno não tem o direito de privar o mundo daquelas pernas, barriga e seios esculpidos por algum artista que a fez como obra fundamental. Estado da arte.
Na ocasião, eu vinha correndo de uma entrevista e precisava entregar o texto pro revisor em quarenta e cinco minutos.
Era uma matéria sobre a patética reforma que tavam fazendo do praça principal. Então vou eu passando pelo bar da esquina e vejo aquela cena surreal. E mais surreal foi ela ter sorrido pra mim. Vocês não vão acreditar. ELA ACENOU E ME CHAMOU. Como assim?
Fiquei um pouco sem jeito e perguntei se era comigo mesmo. Ela confirmou com a cabeça enquanto caía um pouco da franja sobre os olhos e o nariz. Os três segundos que fiquei paralisado ao ver a cena pareceram três horas. (imaginem essa cena com uma iluminação fria e azulada).
O copo de cerveja que ela segurava na mão esquerda refletiu um raio de sol que fez o favor de me tirar do transe. Obviamente fui até a mesa dela - agora já nem importava mais a figura do revisor na história - e perguntei em que eu podia ajudar. Ela disse pra eu sentar na mesa que precisava de companhia, estava muito triste - adeus revisor.
Disse que o namorado tinha terminado com ela - que imbecíl.
Me convidou para ir a uma festa e tomar todas as champanhas possíveis. Aceitei.
Fomos para a casa de uma amiga saída da mesma forma que ela. Porém, ruiva.
Passamos algumas horas falando sobre como a vida é injusta com as pessoas - naquela situação não havia injustiça nenhuma em minha vida.
Por volta das duas da madrugada ela foi ao banheiro e demorou um pouco a voltar. Sua amiga foi ver o que tinha acontecido e também sumiu. Poxa. Fiquei preocupado. Ouvi um grito seguido por risadas das duas. Obviamente, fui verificar. Sim. Elas estavam seminuas sobre a cama com lençol de seda preto. Sabe aquela cena de filme? Pois é.
As duas perceberam que eu estava escorado na porta paralisado. Sentaram-se encostadas na parede e, simultaneamente esticaram os braços e com o indicador me convidaram para o que seria a maior festa sexual que a minha vida poderia suportar. Duas ninfas, provavelmente saídas da mente de Nabokov, e eu. Como num flash, eu estava sobre a cama só de meias. (?)
A amiga ruiva, me puxou pelo cabelo e beijou meu pescoço enquanto a semideusa morena jogava champanha sobre o peito. Flutuamos em um ato surreal. Mas, né. Fechei os olhos enquanto beijava os lábios macios das duas ao mesmo tempo.
Ao abrir os olhos me deparei com uma senhora sem dentes e quase careca sorrindo pra mim e dizendo: vem cá, garotão!

*sonhei isso noite passada.

8.6.11

Querido Inverno


Querido Seu Inverno

Escrevo essa carta pois creio que houve um equívoco em sua ação nos últimos dias. Acho que o senhor está errado. Ou, ao menos, está olhando o calendário de outro ano. Sei lá o que o senhor fez! Anda bebendo demais?
Faltam ainda uns 15 dias para que o senhor possa aparecer. E aviso que já há uns 20 que botou o narigão aqui no mundo. Veja bem: isso não é muito legal, visto que tem coisas que precisam ser respeitadas. Como os semáforos pelos motoristas.
Seu dia de nascimento é por volta de 21 de JUNHO. Estamos apenas no dia 8 e tá frio pra dedéu.
As pessoas precisam se preparar.
Eu, por exemplo, já não tenho mais ceroulas e mijões e camisetas de manga comprida para usar. Não é assim tão fácil as mamães lavarem as roupas no frio e na chuva. Não seca.
Agora eu tenho dormido com três - três - cobertores. É pesado.
Minha aula é de manhã. O senhor faz ideia de como é levantar da cama com 2 graus de temperatura e sensação de -9?
E depois de levantar ter que ir parar embaixo do chuveiro?
Não! Isso não está certo, seu inverno.
Tenha um pouco mais de calma e depois que vier nos congelar, tenha mais pressa em sair.
Meu pai fica triste. Porque no inverno é ruim de beber cerveja.
Ele diz que tem que tomar vinho daí. E vinho da azia, segundo ele.
Aqueles momentos de solzinho e bergamota não são suficientes pra abafar a brabeza que me dá quando eu acordo e não quero colocar o nariz pra fora das cobertas.
Mas minha mãe diz que eu tenho que ir pro colégio.
Se eu não fosse pro colégio eu não saberia escrever essa carta. Minha mãe tá é bem certa.
Volto a lembrar que o senhor é quem está errado, seu Inverno.
Peço que repense sua atitude e só reapareça daqui um tempo mais.

Um abraço cordial desse amigo que gosta do senhor só por alguns momentos particulares.

Atenciosamente, Rodrigo Ricordi, 9 anos, vivente em Santa Maria.

*carta supostamente fictícia. imagem real, mas sem fonte. :)

6.6.11

back do beck

fumarei
I'll be back
um cigarro e não um beck

(praquela do tempo)