1.3.11

das cartas que escrevi e não enviei

naquele tempo em que eu seguia sem receber as cartas que viriam daquele lugar o qual eu já nem lembrava mais o nome quando eu queria matar a saudade das coisas que dizias pra mim daquele imenso sentimento de pertencimento a uma história que eu contei pra alguém que nem ouviu e ali findou lembro daqueles dias em que lia uma carta por dia e escrevia duzentas e criava duas mil histórias e voltava a dormir extasiado com aquelas promessas de que a vida seria pra frente e nunca pra trás e sempre sempre sempre tudo era bonito e sempre acabava bem mesmo que o improvável batesse à porta ou o provável se confirmasse de forma mais cômica sigo aqui com as cartas que escrevi e não enviei por que não sei mais o que dizer desde o tempo em que já cego punha bitucas de cigarro acesas nos ouvidos pra jamais ouvir o teu adeus

Um comentário:

  1. bitucas de cigarro acesas nos ouvidos não é uma imagem agradável. Já cego, depois surdo. Incomunicável criatura, distante das cartas, da escrita e das pessoas que nunca deu atenção...um velho decadente que escreveu, sofreu, amou, e agora, sozinho, revive as lembranças, arrepende-se, amargura-se no quarto escuro e sujo. Um lobo da estepe, talvez...

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