3.9.12

Montevideo - A cidade das casas coladas e da paciência

Montevideo é linda. Poderia ser mais.

É uma capital com aproximadamente dois milhões de habitantes e muita história pra contar. A cada prédio antigo que se vê, há um traço da construção de um país que sempre foi "corinho " na timeline sul-americana.
Acho que essa estigma de invasão, de ser de um ou de outro, fez com que os uruguaios construíssem suas casas coladas umas nas outras. A história, em Montevideo, tem seus heróis homenageados com monumentos monstruosos, gigantes. A praça da Independência, por exemplo, apresenta José Artigas em uma escultura imponente que representa todo o patriotismo do povo uruguaio.

Antes de viajar, é claro, procurei informações sobre a cidade, os pontos turísticos e onde comer. Fui certo de que comeria bem. Vou começar pela comida por que é importante comer bem para andar pelas ruas de Motevideo (e é muito legal fazer isso).

A atual cotação do real brasileiro no Uruguai não favorece a quem quer comprar e se empanturrar na orla do Prata. Câmbio a 1 por 10. Fomos almoçar no tradicional La Pasiva no bairro Cidade Velha. Não achei tudo isso. Fomos mal atendidos. A atendente, inclusive, sugeriu que fôssemos trocar o dinheiro por que ela não tinha troco (absurdo isso). Pedi um Chivito e um chopp; a Carol pediu Peixe com purê e uma coca-cola. Isso custou 600 pesos. Caríssimo por um sanduíche sem tempero e um peixe com purê sem gosto. A noite fomos ao restaurante Locos por Asar comer a parrilla (que até então era obrigatória ao turista). Assim, vamos combinar: é um churrasco na grelha. Assado na brasa e SEM SAL de novo. Isso aí deu mais 700 pesos por casal. Sem contar que pagamos em média 7 reais por uma garrafinha de água nesse restaurante mais 50 pesos de "gorjeta obrigatória" por pessoa.
No dia seguinte descobrimos sem querer o restaurante que vou indicar a todos que me pedirem idicações em Montevideo: o restaurante Manchester (esquina da 18 de Julio com a Convencion). Lá fomos muito bem atendidos por um garçom simpático e comemos uma comida em conta. Pedi bife à Milanesa com ovo frito e batatas fritas. Finalmente comida com gosto e em bastante quantidade. Pedi o bife e a Carol pediu a salada por 300 pesos o almoço por casal. Indico muito o lugar. Aos comilões: existe um bifê livre por 300 pesos na av. 18 de Julio. Depois disso a gente decidiu que o McDonald's seria nosso restaurante oficial, já que o preço era, mais ou menos, como aqui no Brasil. Rápido, bom e barato. 

Sempre li que os uruguaios são simpáticos e alegres. Eles aparentemente são. As pessoas andam em ritmo de metrópole. Aquele emaranhado de pessoas nas calçadas, bancos e chão de praça; tem gente por todos os lados. Mas não senti essa alegria e receptividade dos atendentes dos locais em que consumi. Achei os uruguaios todos muito lentos e sem vontade. Até mesmo o McDonald's que preza pela rapidez no atendimento era LENTO. Nos mercadinhos da cidade, aqueles uruguaios gordos e narigudos com a mínima vontade de falar quanto mais de atender um cliente e contar o dinheiro. A cidade anda lenta e calma enquanto o sol se esconde no fundo do Rio da Prata e a população lota as Ramblas na beira-rio. Todos com seus mates debaixo do braço.

Fizemos uma coisa que recomendo muito. Alugamos bicicletas e andamos pela orla do Prata por volta de três horas. Um trajeto de, mais ou menos, 4km até o parque Rodó.


O Parque Rodó é o parque de quem mora em Montevideo. Para passear com o cachorro, levar as criaças para brincar, "fumar um", praticar esportes ou simplesmente tomar um mate deitado na grama. Um lugar muito bonito. Até aqui só falei em bonito e não falei sobre limpeza. Os habitantes de Montevideo não ligam para isso.

Chama muito a atenção a sujeira da cidade. O cheiro de lixo, cocô de cavalo e cahorro, papel espalhado pela rua. Eles tropeçam no lixo e deixam onde está. Isso é muito ruim. Os restaurantes todos tem uma aparência suja. O parque Rodó, por exemplo, tem muito lixo espalhado nas ruelas e na grama.

Na noite a pedia é o tradicional bar Fun Fun (que uns dizem fúnfún, outros fãnfãn). Barzinho pequeno, cheio de penduricalhos na parede. Camisas de times, fotos, lembranças de um disante ano de 1985 quando foi fundado. Mostra todas as noites o tal tango que os argentinos tentam roubar, o Candombe e a Uvita. Uvita é uma bebida muito boa a base de vinho do Porto. Vale muita a pena ir ao Fun Fun. Bebemos bastante e nos divertimos por uma média de 800 pesos por casal.

Montevideo é uma cidade linda por essência. Pela história e pelo povo. Povo esse que acaba estragando a cidade com sua morosidade e falta de educação. Mas isso não é culpa deles. Talvez eu tenha esperado demais. É um passeio que já foi mais barato, mas vale a pena. É um pedaço da história que está lá preservado e explícito.   


13.7.12

O dia em que o Rock entrou na minha vida?



Não sei.

Uma das coisas mais incríveis da vida é a memória. Dela puxamos a lembrança e disso tudo construímos nossa história. Fazemos isso ininterruptamente. A cada momento a gente acresce nesse enredo uma coisa a mais, um detalhe, um marco. Isso faz com que o sujeito "se crie", como dizem por aí.

É incrível como o tempo nos molda e nos prega peças.

Primeiro é a criança subjugada pelas cantigas infantis, depois a afeição pelas músicas ouvidas pelos pais. Depois o primeiro ídolo, o primeiro disco a primeira canção. Aquele batuque na perna. O pé que começa a bater no ritmo. Roberto Carlos, Leandro & Leonardo, Chitãozinho & Chororó... aquela vibe "não-aprendi-dizer-adeus".

Por que meus pais eram muito de ouvir esse sons melancólicos, bucólicos, antigos etc. Afinal eles são antigos e a história deles foi construía no embalo dessas canções. Da Jovem Guarda, do samba canção, da "música romântica". Fábio Júnior faz minha mãe arrepiar. Meu pai e suas "gaudérias". Eu era essa criança sem norte musical, essa mistureba. De Oswaldo a Oswaldir. De Chico aos sertanejos.

Acho que o meu Rock foi salvo e germinado no meu retorno a Santa Maria. Lá pelos idos de 1993. Dei a sorte de cair num ambiente pós-romântico-sertanejo. A Rádio Atlântida bravava o pop, o punk, o rock maluco de Seatle. Acredito que nasci junto com o Nirvana, com o Alice in Chains. Os vestígios daquele rock de verdade dos anos 1960-1970 juntavam os cacos e formavam um novo Rock. Caí no colo do meu padrinho que era jovem e rebelde e ouvia música. O fato de eu lembrar daqueles pôsteres do KISS colados na parede e da estranheza que aquilo me causava é marcante. Ao menos, hoje, sou fã de KISS. A rádio me mostrou, enquanto  convivia comigo, outro estilo. Era a gestação do Rock em minha vida. Ou era minha vida que ia adiante.

Depois foi esperar o tempo me mostrar as facetas deste way of life. Suas caras e ícones. Descobri que não era só por futebol que as pessoas discutiam. Quando a gente gravava nossas fitas com as seleções (prelúdio do mp3) e disputava quem ouviria a sua durante os jogos de botão, de Stop e outras coisas. Quando a gente colocava som na rua. Isso tudo era Rock. Pelo viés dos vizinhos, éramos subversivos mesmo que sem causa  aparente. A nossa causa era rir, fazer bagunça, botar fogo na lixeira, lutar pelo nosso espaço. Rock'n'Roll.

Hoje o Rock faz parte da minha vida. Muitos Rocks. Muitas caras e caretas dele. Do incompreendido ao da moda, passando pelo clássico.

O Rock é isso: história de vida. Ou melhor, conta nossa história. Com as baladas dos namoricos. Aqueles de bater a cabeça, os de ficar hipnotizado, os de só ouvir.

Porque, à vezes, Rock é só ouvir.

1.2.12

Infinitos efêmeros

Dessa forma o mundo me prova que sou pedreiro. Sou fincado no meu chão.
Não por não sonhar, por não voar. Eu vôo. Mas feito bumerangue.
Minha sina é desmoronar e construir de novo. Me adaptar ao que me deixa.
Na minha vida de eternas despedidas. Delas sempre sou eu quem fica.
Os outros que vão com suas conquistas. Feito flechas, projéteis, satélites.
Me resta esse quadro branco para chorar e lamentar.
Os planos de "pra sempre" recíprocos que sempre têm validade.
Difícil ser eterno em corpo nesse mundo volátil, não é?
Difícil segurar a mão e os dedos. As lágrimas.
A cada manhã em que eu abrir os olhos será um despedida.
Uma dor em cada travesseiro. A cada sexo, um a menos.
A cada beijo, um adeus.
O que conforta é que a Terra gira.
Que a certeza pode tropeçar na incerteza de qualquer instante.
A certeza é instantânea.
O amor cabe no coração e fica guardado.