30.3.11

300 horas

das tantas horas que te vi só em letras e uma imagem
daquelas tantas maneiras de chamar a cada anoitecer
quando a madrugada virou mesa de bar
das fantasias que discutimos para driblar a distância que teima em ser presente
das Gabrielas no jornal
das vezes que quisemos avançar a ciência e diminuir o tempo e o espaço
dos chás de limão e pêssego que nem combinam mas nos deixam acordados
(não que haja necessidade)
das duzentas e oitenta e oito horas quais estarás além
e das doze que te dou pra me abraçar

(pra ela que, às vezes, é Gabriela)

29.3.11

do ato do merecimento mútuo

nas noites em que com o dedo em riste te torturei
o canto daqueles jargões de mães tolas e falsas referências
ofereço-te agora a parte que não sustenta nem aquele fio de candura que dissimulaste
aqui existe um gorfo de lenda, paixão
nauseia-me tua presença


no mundo





.

21.3.11

das noites

quando passas assim tão intensa na tua mania de me fazer rasgar envelopes nem imaginas que dói esperar que cada pedaço do meu coração volte a ter cor daquelas noites em que sentir teu cheiro me consumia de rir daquele tempo em que teu corpo evitava a distância do meu quando contávamos aquelas longas filas de estrelas da janela do teu quarto quando fumávamos na sacada quente de sol do verão fios ardentes embolados entre os trapos sobre a cama que hoje é vazia

20.3.11

dos dias

daqueles passos
em direção ao que nem via
criava atucanado a solidez da solidão
julgando próprio o que nem mesmo tinha corpo
imprório e tangente
quase fuga
dos dias que passaram
como se fossem apenas segundos
dos dias que agora passam
como eras
daquelas lembranças
resgatadas por sons
e vozes que cantam palavras
que acabam por machucar

17.3.11

por nada

por nada ouvi muitas vezes depois de dizer gracias por nada me submeti a ser um imbecil por nada acreditei que o verde era amarelo por nada olho as fotos de uma vida que não foi minha por nada fico esperando que algo surja e do nada e por nada eu vou dormir pensando que amanhã é outro dia e por nada eu vou seguir assim por nada lembro do teu sorriso (que nunca é só riso, é sempre gargalhada) que me basta fechar os olhos e sentir e lembrar

16.3.11

o homem que me copiava

Olha isso.. esse tal Caio Fernando Abreu... nunca me leu e escreve do mesmo jeito...

“sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo meu deus como você me doía de vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes pra abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calado um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando e pensando meu deus como você me dói vez em quando.”
(Fragmento de Os dragões não conhecem o paraíso)


A Ana B. tava lendo meu blog e perguntou porque eu tava escrevendo como ele.
Eu respondi que não conhecia a obra e que não tinha tido paciência nem de ler Morangos Mofados.
Aí ela me mostrou esse texto que tava no blog do Grings.
Esse tipo de coisa acontece.
E esse texto veio bem a calhar no dia de hoje.

desespero-te

daquele pecado que era mentira daquela ação que era reacionária que era honesta que era bela aquilo que parecia tão carnal que cheirava a sangue fresco daquele beijo draculeano que ninguém mais escapa resta uma sentelha de algo que era assim e ficou falso que soou falso e que desapareceu como o conde no ar como se evaporasse como aquela poça (de um discurso anterior) daquele bloco que deixou saudade mas que hoje parece conto de fadas volto ao meu bloco igualzinho ao dos hermanos sozinho daquele aguardo me desapego descontente desconexo descuidado desesperado desespero-te

*para ela que lembra de mim quando ouve esse som

dos recados que apaguei do orkut

"nao haveria luz senão fosse a escuridão" (mas isso diz a música do post abaixo) na verdade não haveria muita coisa se não houvesse a amargura a tensão a vontade essas são coisas que apimentam a vida do serzinho maluco que vive sob a nossa pele uns mais intensos outros menos (tem certas coisas que eu não sei dizer) apaguei todos os recados do meu orkut e eram na maioria recados do meu aniversario passado que um dia pensei responder acabei esquecendo e agora os apaguei por pura falta do que fazer mas dentre eles havia alguns legais de aniversário ou não (dela inclusive) de pessoas que nem me dão "oi" na rua de pessoas que nem falam mais comigo de pessoas que nem sei onde se encontram no planeta de pessoas que gosto muito e de quem nem perco meu tempo de coisas que se foram e de coisas que ficaram numa noite em que o incerto parece mais certo do que o nascer do sol da noite em que passei lamentando afirmando meu ego reafirmando meu azar esperando o tempo passar

daquelas rimas do MSN

Kareka Ricordi diz (00:21)
luzzzzzz acesaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
me espera no portão pra você veeeeeeeeeeeeeer
(cantor medíocre de msn)

Verônica M. Barbosa diz (00:22)
q eu to voltando p casaaaaaaa

Kareka Ricordi diz (00:23)
tô me massacrando aqui com o acústico do Lulu Santos

Verônica M. Barbosa diz (00:23)
pra q isso meu fio

Kareka Ricordi diz (00:23)
pq eu to triste
pq eu tô bêbado
pq eu quero sair correndo pela rua
pq eu queria morrer
pq eu queria mil coisas e não posso ter

Verônica M. Barbosa diz (00:24)
foi so p rimar

Kareka Ricordi diz (00:24)
foi quase um poema
vou postar
vou colar
nossa conversa no blog

Verônica M. Barbosa diz (00:24)
vou gritar

Kareka Ricordi diz (00:24)
vou pular (da janela)

Verônica M. Barbosa diz (00:25)
p t encontrar

Kareka Ricordi diz (00:25)
e te abraçar

Verônica M. Barbosa diz (00:25)
e suspirar

Kareka Ricordi diz (00:26)
agora sim eu vou postar

*para minha querida Verônica

Aproveito para postar uma música que julgo ter uma das letras mais bonitas que esse rapaz pode escrever

12.3.11

das noites em que o rock gritou

um beijo e um abraço nela que sempre estve esperando que o mundo desse voltas e ele deu deu como sempre dá e volta sempre pro mesmo lugar do beijo que seria branco e foi preto do abraço que seria da mesma cor e foi de duas da falta que sentia e que aumentou com o passar das horas da ânsia de que o amanhã fosse hoje das horas intermináveis que fazem com que aquilo que nem é passe a ser daquilo que foi se torne bobagem daquelas horas que a conversa virou mentira das horas em que a chuva serenou do dia em que o grito do rock virou saudade e da saudade que virou insônia e da insônia que virou verdade e que cada segundo valerá a pena dos abraços que dou na rainha da bateria

8.3.11

do confete confesso

caíam lentos com a brisa daquela manhã de terça os últimos confetes do carnaval que foi embalado por aquele gigante como o vento que gira gira gira e não anda adiante daquele afago pela madrugada da porta sem chave que não deveria abrir abriu um espaço imenso como o vórtice do furacão da tua sombra colada no chão com a luz amarela que amarela o nascer do sol e faz cada centímetro da minha sombra sentir tua pele arrepiada envolvendo a minha alma que vagava lenta ao ritmo da brisa e dos confetes em noites antes solitárias

5.3.11

da noite em que me apaixonei por uma barata

"se acaso você chegasse" lá na casa do outro lado da rua numa noite de carnaval em que só podia tocar rock e do nada tudo ficasse verde e rosa como ficam as pessoas na avenida sem poça d'água com fantasias queimadas e o beijo fosse tão tão tão bom quanto aquele samba do telefone ou das rosas que não falam e o não beijo que não é adeus e nem nada só uma questão de insignificância confessa pela falta de carinho e de adeus de quem não mora no meu barraco e podia ter morado a quem você nunca fez nenhum nenhum nenhum malzinho e no fim da noite tá lá sentado no balcão olhando pro teto com alguém que você nem conhece e aparece aquela barata e ela fica lá marrom brilhosa olhando pros dois e depois voa

1.3.11

das cartas que escrevi e não enviei

naquele tempo em que eu seguia sem receber as cartas que viriam daquele lugar o qual eu já nem lembrava mais o nome quando eu queria matar a saudade das coisas que dizias pra mim daquele imenso sentimento de pertencimento a uma história que eu contei pra alguém que nem ouviu e ali findou lembro daqueles dias em que lia uma carta por dia e escrevia duzentas e criava duas mil histórias e voltava a dormir extasiado com aquelas promessas de que a vida seria pra frente e nunca pra trás e sempre sempre sempre tudo era bonito e sempre acabava bem mesmo que o improvável batesse à porta ou o provável se confirmasse de forma mais cômica sigo aqui com as cartas que escrevi e não enviei por que não sei mais o que dizer desde o tempo em que já cego punha bitucas de cigarro acesas nos ouvidos pra jamais ouvir o teu adeus