28.7.11

Curtos

Nem só de trovão se faz um delírio
Da casa de dentro de fora afora as delongas
Costurando aspas em meus devaneios
Tropeços nos fios curtos dos teus cabelos
Onde faria morada
Transverso ao que te negas
Do que te entrego em ondas

(para todas as mulheres de cabelos curtos - que são as que prefiro)

27.7.11

ficamos assim
um lá
e outro cá

na nossa razão

coração?

de ponta a ponta te soube

te quis mais que meu orgulho

mesmo assim

no meio de outrem

uma página que viraria e acabou rasgando

26.7.11

Amar é morrer um pouco - e, também querer matar

Meu Amor
Yanto Laitano

Meu amor, eu te odeio
você me perturba
E um dia ainda vou conseguir te matar

Meu amor, não sei o que eu sinto
Tô num labirinto
E esqueci de trazer um fio prá retornar

Mas meu bem, tudo bem
Meu bem, tudo bem
Eu juro que levo teus olhos castanhos comigo

Meu amor, não fale comigo
Sou teu inimigo
E um dia ainda vou conseguir te matar

Amor, cale tua boca
E tire tua roupa, benzinho
E vamos acalmar nossa dor

Mas meu bem, tudo bem
Meu bem, tudo bem
Eu juro que levo teus olhos castanhos comigo


Curte aí a canção ao vivo no Theatro São Pedro.


Falando nisso o Yanto Laitano toca no bar Macondo Lugar no próximo sábado, dia 30.
Promete ser um show muito bom.
No site do Yanto tem todas as músicas do disco Horizontes e Precipícios pra ouvir ou pra baixar.

Mais infos aqui.

Sabrina (Capítulo 1)

Foi numa daquelas tardes quentes que a gente torcia a testa pra enxugar o mar de suor dentro daquela salinha sem janela. Ele saiu pra fumar um cigarro - na rua, uma nesga de sombra cobria parcialmente o corpo de um rato morto sobre a calçada - e esfriar a cabeça depois da discussão com a sogra.
Na manhã havia acordado com o barulho do metrô que colidira com um motociclista bêbado. Não há humor que resista. Ainda levantar e encontrar a sogra na cozinha de chambre roxo com flores amarelas comendo cuca de laranja com chimia de uva. Aquele olhar soberbo e um resmungo de bom dia "seu bosta". Ele não quis controlar a porra da boca. Enfiou logo o dedo na cara da velha e descarregou palavrões acumulados desde a última visita. Em seguida acendeu um cigarro que mal conseguiu fumar. A inquietude mental fazia com que seu corpo tremesse até o bigode. Jogou logo o cigarro que pipocou na parede e caiu no pé do sofá com forro puído pela bunda gorda da mulher que passa os dias fazendo crochê para os panos de prato que vende para as vizinhas linguareiras.
Os dias de trabalho no empacotamento do moinho de farinha eram molestos. A carga era parelha com a pressão do diretor que fiscalizava cada pacote antes de encaixotar. O salário motejava a desgraça ao fim do mês. Pensou várias vezes em sair de casa e começar a assaltar velhinhas na praça. Não era justo com a vida fazer isso. Tomar pau de brigadiano, virar mulher de negão aidético no xadrês. Tergiversando esses pensamentos seguia a rotina modorrenta no subsolo da "firma".
Quando tentou acertar a bituca no rato que jazia a sua frente sentiu a presença de alguém e segurou o ato. Era hora de saída do colégio próximo. Um grupo de alunos primários passava. Comentavam extasiados a briga da hora do recreio. As meninas arrodeavam o vencedor. Os puxa-sacos vangloriavam-se de sentarem próximos ao mais novo maiquetaisson do bando. Na roupa ele carregava a marca vermelha de sua vítima. Chutes na barriga, socos e mais socos na cara do infeliz que ousou cumprimentar a mina mais bonita da turminha do galo. Ela obviamente vinha na frente do bando. Imaculada e brilhante. Com o sorriso amarelo. Porém feliz em ser objeto de disputa e ter algum valor na vida. Nem era tudo isso. Menina de cabelos pretos, pele muito branca, olhos pretos, tatuagem desbotada no pescoço. Saviano brecou o braço de um moleque que representava o golpe de misericórdia de seu ídolo. Nesse momento seu olhar cruzou com o dela.

20.7.11

drops sem peso

Não me contento com drops da tua alma
Não sou tão tão leve assim
Pesam-me os ossos
Os da cabeça exigem quilos
Os do peito, toneladas
Não me basta teu cabelo
Não me basta o teu cheiro
Não me bastam teus segundos
Sou viciado em ti

aquele lance de ver o nome ali ao lado
estático
não sobe, não desce, não muda
fica ali parado
inerte
fixado pela dúvida falsa, pelo pavor dissimulado
o que não para é a busca por ele
por movimento
sentimento
sinal verde ou lua
lua. lua de coração? talvez
meia lua ou eclipse? eclipse
lua cheia? só se for nova. negra
ou sorrindo com a fase
que fase?
a velha caquética
plaster caster
e o sentimento é esse monstro gigante
sem braços, nem pernas
cambaleando
pendendo pra cá e pra lá
dentro de uma caixa de ossos prestes a explodir
fraca e que não sabe dividir espaço com o resto

trovoada melancólica

Daquele dia que te reneguei
Tão doído e ácido
Tão grande quanto as mentiras que eram
Das que te mentias
Das que eu mentia e me mentias
Como a faca invadindo a carne a furo já feito
(E cravando mais e mais)
Da corda que não asfixia
Da distância que meu coração não sacia
Jaz a palavra que não mais respeito


.
Apanhador Só - Nescafé
.

15.7.11

vento

venta, vento
norte, norte
forte
que algo me importe
cicatrize o corte
venta, vento
venta
lento
lamento

2.7.11

"do que é amor ficou o seu retrato"

meu coração sempre teve pressa.
nunca entendeu - nem quis - teus quandos e ondes.
ele só quis pulsar. quebrar. bater - por vezes no sentido agressivo.
e não era por que era doente.
ele não o é.
pode ele ser de um rítmo diferente?
pode.
provavelmente.
provavelmente ele te esculpiu.
da forma que ele imaginou.
com a batida frenética. típica dele.
ele negou outros batidos.
outras faces e outros amores.
tantos que nem sabe contar.
ele bateu sem sentido e segue.
mil vezes bateu descompassado pelo teu passo.
pelo teu desdém.
por acreditar que a hora se fazia pelo jeito.
e não pela canastra que oferecias a ele.

*retratos são legais porque guardam momentos.
há momentos que não tem retratos.
talvez, esses pretendam ser esquecidos.