Nossos heróis já não morrem de overdose. Morrem feridos a bala. Morrem esfaqueados.
Hoje dependemos do mero acaso para seguirmos em frente. Um minuto antes ou depois pode decidir nosso destino. Basta esse momento combinar com o trajeto de nosso algoz. Já não sei mais se meus inimigos são os que estão no poder. Nem sei que poder é esse.
Infelizmente, acho que estou rodeado de inimigos. Na mídia, na calçada, no céu, na terra e na Terra. Será que posso confiar em meus pais? Espero não morrer ao cruzar com meu irmão na descida da escada caso ele esteja de mau-humor. Será que posso ir ao banco, agora? Será que um dia, além de internet com cheiro, vou ter que me proteger com colete a prova de balas ao assistir o “grand journal”? Quem sabe todo o sangue escorra dos noticiários e inunde minha sala. Será que sabemos nadar em sangue? Vou começar a treinar.
O meu tesão continua sendo risco de vida. Nem tenho mais dinheiro pra comprar meus sonhos. Só espero que não perca meu tesão de mudar o mundo. Espero que você não o perca. Demos um grande salto do sex, drugs and rock’n’roll para uma jaula de concreto onde a nossa comunicação com o mundo, com as coisas, é por meio de um e-mail. Isso até que não arranjem um meio de nos prender no caminho da nossa mensagem no MSN.
Qual veneno antimonotonia devemos usar? Terá algum pra não ser assaltado ou para não encontrar uma bala perdida na porta do banco? Quem sabe vamos esquecer a idéia de sentir cheiro pela internet e criar um programa que deixe o mundo e as pessoas em harmonia?
Um dos meus heróis morreu de AIDS. Ontem morreu uma menina, que poderia se tornar minha heroína, com um tiro. Chega. Presidente: o quê se faz? Papa: tá bom aí no altar do Vaticano rezando e combatendo a camisinha? Saddam: tá melhor aí no céu/inferno? Bush: quantas cabeças de gado tu trocaste por petróleo com algum iraquiano xiita?
Pai e Mãe: Vou tentar ficar vivo para ver isso mudar.
Ideologia: Eu quero uma pra viver!
Rodrigo Ricordi
06 de março de 2007
