23.7.09

Literatura de vestiário

Adenor é técnico de futebol. Técnico que treina, escala, conversa. Já trabalhou em muitos times. Obteve mais sucessos que avessos. Já levantou taças importantes, desceu pro andar de baixo uma vez. Superou. Mas isso não foi só culpa dele. Acho que a culpa dele foi mínima nesse fracasso.
Adenor nasceu no Rio Grande do Sul. Terra de dois donos. Dois times de futebol que tem uma rivalidade que transpõe qualquer limite social e imaginário.
Esse duelo acaba de completar um século de perrengues monstruosos.
Lutas feias, bonitas, limpas, sujas.
Eis que nosso técnico já trabalhou nas duas casas.
Na verdade ainda trabalha em uma das equipes.
Foi muito bem na outra e adquiriu uma identidade com a mesma.
Mas, por fim, foi contratado pelo rival.
O senhor Adenor Bacchi foi chamado para comandar o Sport Club Internacional de Porto Alegre no ano de seu centenário. Começou bem no ano anterior. Conseguiu afastar a coloração azul que refletia.
Foi campeão de um torneio internacional de segundo escalão e, com esse título, seguiu adiante em seu trabalho.

O duelo entre os dois maiores times do RS aconteceu como elemento de celebração dos cem anos de rusgas.

Adenor e seutime de estrelas vinham de dois fracassos consecutivos em duas finais de campeonatos.
Preparou a equipe durante a semana ganhou uma partida de importancia inferior e foi para o tal gre-Nal do centenário.
Entrou no vestiário e começou a conversar com seus comandados. "A gente tem que repetir aquela partida de 1909", dizia, "vamos jogar como se fossemos amadores".

E foi assim que a equipe se preparou.
O atacante rápido e arredio ficou sem posição no time.
Parecia um cachorro cego em noite de Ano Novo.
O outro chorava a solidão em um imenso descampado verde.
O zagueiro/lateral/pustiço não defendia e nem apoiava... bem como acontece quando tu ainda não sabe bem o que realmente quer ser na vida.
O gringo maluco e brigão seguia da mesma maneira.
Serve de jogador coringa do time adversário.
Pega a bola, dá uma giradinha, faz uma careta e entrega a bola pro concorrente do outro time.
O magro, alto do meio campo tirou o dia pra competir entre as lesmas e minhocas habitantes do gramado do clube da Azenha.
E o pior: perdeu.
Cansaria o leitor se eu ficasse descrevendo um por um os jogadores predispostos a perder o jogo centenário assim como foi o primeiro.
E para a surpresa de Adenor, o seu time saiu na frente no placar. Isso era inadmissível.
No vestiário ele brigou com seus atletas. "Não pode ganhar esse jogo. Parem de jogar!"
E na volta para o último tempo da partida o time vermelho entregou a rapadura para o de azul e perdeu o jogo mais importante do ano.

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Tem coisa estranha no Inter. E as coisas estranhas sempre acabam quando muda o técnico.
Tinha o Muricy sobrando no mercado. Agora não tem mais.
Então, eu volto a frisar: acabou o ano do centenário.

Mas, lá no fundo, eu quero no fim do ano escrever aqui que estava redondamente enganado.

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