1.10.10

João Bolão e o bolão ideal - ou não

Tem o João, um dos caras que eu mais respeito. A gente chama ele de João Bolão. Não é nada pejorativo. É que ele faz parte da equipe de Bolão de um clube aqui da cidade. Estávamos tomando uma ou duas no bar ontem. Ele contou as últimas peripécias que aprontou no meio dos velhos (por que só velho joga Bolão) em uma excursão para Curitiba. Nem lembrava que essa cidade existia. "Aprontei muito com o velharedo, bebemos todas e ainda ganhamos a semi", disse ele. "Bei, cara, tem que ver que mulheril". Não duvido, deve - MESMO - ser bem divertido sair com velhos aposentados e babões.
Entre nossas trocas de experiências noturnas, ele contou um sonho estranho que teve.
No sonho ele tinha metade da estatura (João é um cara grande, dois metros de altura, braços firmes e compridos de jogar Bolão), era careca e usava óculos fundo de garrafa. Jogava Bolão em um time que nunca tinha vencido uma disputa. Era triste a coisa. Nada funcionava. Nenhuma estratégia. Não adiantava treinar.
Certa feita (dentro do sonho) marcaram um jogo em Panambi contra o melhor time da cidade. Era só mais uma derrota, cerveja e festa. Mas sempre rolava aquela frustração de nunca ganhar uma partida que fosse.
Ao chegar em Panambi, João sentiu uma coisa estranha. Mistura de bem estar com ansiedade. Uma confiança que jamais sentira. Chegou no hotel, bebeu uma lata de cerveja do frigobar, deitou na cama, ligou a TV, zapeou pelos 56 canais, não encontrou nenhum joguinho de futebol pra assistir e dormiu. Acordou de susto com o Adolfo peidando no alto do sono. Foi um tiro de canhão. Horas depois o peido do "Finho" era comentado na mesa do bar pelos colegas dos quartos vizinhos.
Apesar do susto flatulento, João sentia algo bom e animador.
Na saída para o jogo, João - ou Joka, como os companheiros de time o chamam - comentou com Gumercindo: "Acho que a gente vai ganhar, tô sentindo desde ontem." Guma, riu e deu de ombros.
O ginásio do Clube Atiradores de Panambi era novíssimo. A pista de Bolão era lisinha e brilhante. Encerada e besuntada com óleo de peroba. Um brinco de pista. Confraternizaram com os adversários, tomaram umas dezesseis cervejas e resolveram iniciar a cancha.
João ganhou o par-ou-ímpar e sentiu um arrepio confortante que confirmava toda a sensação de que ia ganhar um jogo pela primeira vez.
Eram cinco contra cinco. Quem fizesse mais pontos ganhava. O desempate era do dono da casa. Então, era ganhar ou ganhar.
João, todo confiante, pediu pra jogar a primeira rodada. Escolheu a melhor bola de todas as melhores bolas (eram todas novas mesmo). Foi o melhor primeiro arremesso que ele executou na vida. Strike! A euforia tomou conta da equipe. Foi um Strike atrás do outro. O time da casa não teve chance, ficou nervoso, errou dos pinos diversas vezes.
Enfim, a primeira vitória! Bebida por conta dos donos da casa. Aquela gozação toda sobre ser a primeira vítima do Íbis do mundo do bolão mundial.
E fim de sonho.
João não sabia explicar esse sonho. Por que ele, aparentemente, não tinha motivos para se preocupar com seu desempenho no Bolão.
Depois de mais duas cervejas ele voltou ao assunto. Falou exatamente essas palavras: "Cara, até hoje eu não sei se aquilo foi sonho ou realidade. Tô ficando maluco, velho. Não sei o que fazer".
Fiquei me perguntando quando deitei a cabeça no travesseiro se as coisas na vida se transformam em sonho, se a gente sonha e idealiza as coisas, se idealiza e depois sonha, se temos controle sobre o que sentimos e se devemos querer coisas que fogem do nosso controle. Sendo em sonho, ideal ou não. Se realmente vale a pena calçar um tênis que não nos serve só porque ele é vermelho, bonito e confortável.

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