6.10.11

as cartas da última gaveta da cozinha

vou jogar fora vários pares de meias
cortar as calças velhas
deixar curtas
como bermudas
limpar o baleiro

vou jogar fora os drops velhos da vida
pedaços daqueles dias frios
traços daqueles esquadros rabiscados a carvão
do tempo que o preto era contraste
quando o branco era penúria
o apito do trem era distante
quando a largura da cama não variava
não existia escova de dente reserva
quando a insanidade era não te falar
vou jogar fora todas as cartas que te escrevi
que dormiam no fundo da última gaveta da cozinha
delas não preciso mais
elas não superam o toque do teu nariz no meu

(para Carolina Reichert)

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